“Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância. Pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono! Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer…”

Clarice Lispector

segunda-feira, 28 de março de 2011

AQUELA LUZ

Dentro dos sorrisos
Vida
daquelas que rasgam as entranhas
quebram protocolos
desfazem tradições.
 
Dentro dos olhares
Paixão
daquelas desmedidas
sem hora nem lugar
desnudam aparências
corrompem etiquetas.

Dentro dos abraços
Energia
daquelas revigorantes
como sangue em transfusão.

Aprendi com a luz:
ela não tem margens, limites
nem molduras.
Brilha aquilo que sabe brilhar
Ilumina aquilo que necessita ser iluminado.

A luz só sabe ser
em total escuridão
mas só existe fora de si.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Água de Vento

Vento sopra nuvem
Chuva não molha lá
Nuvem nem sabe
O que carrega
Água corrente
rio, lavadeira.

Vento sopra água
para a nuvem
sabe carregar
chuva para lá.

sábado, 12 de março de 2011

BANDEIRA BRANCA

Não quero a paz branquinha
com a cara pálida.
Quero cor com gosto de felicidade,
adrenalina.

Não quero a paz sem graça,
o silêncio doendo os meus ouvidos.
Quero o barulho dos sorrisos, dos olhares de desejo.


Não quero a paz dos lugares vãos.
Quero a sala cheia de avós, crianças.
Quero ver-me nas rugas dos asilos
e recomeçando
nos berços inundados de vida nova.

A minha paz tem a cara do recomeço,
do círculo em pleno movimento.

A paz anda, fervilha
rompe
esses rótulos de bandeira branca.

sexta-feira, 4 de março de 2011

APOSTA ALTA

Sou mais do que você consegue ver
Minha loucura é tentativa de equilíbrio.

Minha maneira suicida arrisca
mais vida do que eu tinha creditado.

As apostas são altas
para o pouco retorno,
mas a vida pede
para ser gasta toda de uma vez.

Sussurre mais alto
para que eu me silencie.

Desço degraus na sua frente
Para sua visão passar rente a mim.

Há segredos que preciso esconder.
Não me acostumo com o sucesso.

quarta-feira, 2 de março de 2011












































E-mail enviado ao jornalista Carlos Aranha. Na semana seguinte, ele publicou no Jornal da Paraíba.

"Li seu artigo "Lei absolutamente imperfeita" sobre a reforma ortográfica do Jornal da Paraíba, do dia 11 de março de 2010, e concordo com sua opinião. A intenção desta nova mudança pode ser boa, mas as consequências e os custos envolvendo tais reformulações são exorbitantes. Já não basta, por exemplo, o custo dos pais com a compra de livros escolares que mudam todos os anos? Já não bastam as editoras ganharem dinheiro "reeditando" livros que foram lançados nos anos anteriores e que já ficaram velhos por conta da reforma? 

Sou professora de Língua Portuguesa e sinto na pele os efeitos, assim como percebo o assombro dos alunos ao precisarem "reaprender" tudo, esquecer regras que demoraram a assimilar na escola e que hoje não existem mais. Principalmente no que se refere aos acentos agudos que foram exterminados de palavras como assembléia, idéia... O vôo dos pássaros perdeu um pouco da beleza sem o acento circunflexo. Já com relação aos hífens, não tenho muito o que dizer, uma vez que poucos usavam corretamente e com a mudança creio que não mudará muita coisa. Apenas acho dispendioso para o ensino as exceções que contradizem uma regra, muitas vezes sem fundamento. O acento agudo, nas palavras paroxítonas, não existem mais nos ditongos OI e EI, mas permanece no EU. Isso para quê? Para causar ainda mais espanto nos alunos, fazê-los desistir de estudar o português porque já é complicado mesmo e não há como aprender? Unificar sem facilitar, na minha opinião, não unifica. Talvez seja mais uma tentativa de excluir uma grande quantidade de pessoas conhecedoras da norma culta e incentivar editoras a aumentar o lucro com "Best-Sellers".

Aplaudo sua crônica e lhe parabenizo por seu excelente trabalho como jornalista e admirador de nossa belíssima língua materna.

Grande abraço,

Cyelle Carmem Vasconcelos Pereira

terça-feira, 1 de março de 2011

OUTRA

Há dias em que prefiro ser outra
mudar a cor do cabelo
chocar a quem passa na rua
trocar o jeans surrado
pelo vestido decotado,
surpreender.
Pintar as unhas de azul
Fingir que assim sempre fui.

Há dias em que enjoo de mim!
Aquela cara de menina
previsível para muitos
antiquada para poucos.
Ser um exemplo do que sempre esperam
Ser quase perfeita
Jamais perder o ritmo ou o prumo.

Por isso
há dias em que me visto de outra.
Disfarço-me, escondo-me
Invento um eu,
mais humano
mais incompleto
que se permite errar mais
que se permite não pensar muito
tentando não dar razão a tudo e em tudo.
Assim, é mais fácil seguir levando no bolso
para uma ocasião propícia
a minha essência primeira.