Sabe qual é o melhor remédio para o coração?
Não é fazer corridas regulares, nem ter alimentação saudável. Não apenas isso!
Não é ter uma vida tranquila, nem beijar na boca quem nos dá tesão. É bom, né? Mas não basta.
O melhor remédio para o coração é ouvir poesia, senti-la, deixa-la nos embalar.
Ontem tive o prazer inestimável de assistir ao Grupo Teatrália encenando "Ensaios Fotográficos" de Manoel de Barros.
Na voz de Gustavo Limeira, ouvi os versos abaixo:
Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que uma palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com sua flauta de couro. O grilo feridava o silencio. Os moradores do lugar se queixam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras pois que desestruturaram a linguagem. E não eu.
(Manoel de Barros)