“Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância. Pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono! Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer…”

Clarice Lispector

sexta-feira, 29 de julho de 2011

OUTRA

Há dias em que prefiro ser outra
mudar a cor do cabelo
chocar a quem passa na rua
trocar o jeans surrado
pelo vestido decotado,
surpreender.
Pintar as unhas de azul
Fingir que assim sempre fui.

Há dias em que enjoo de mim!
Aquela cara de menina
previsível para muitos
antiquada para poucos.
Ser um exemplo do que sempre esperam
Ser quase perfeita
Jamais perder o ritmo ou o prumo.

Por isso
há dias em que me visto de outra.
Disfarço-me, escondo-me
Invento um eu,
mais humano
mais incompleto
que se permite errar mais
que se permite não pensar muito
tentando não dar razão a tudo e em tudo.
Assim, é mais fácil seguir levando no bolso
para uma ocasião propícia
a minha essência primeira.

* Poema do livro "Luzes de Labirinto".

3 comentários:

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

esse negar outro, buscar ser tudo menos o que é, me parece tema sempre caro a corações poéticos

Cyelle Carmem disse...

Ediney, obrigada pela colaboração no blog. Dei uma olhada no seu, um trabalho de divulgação muito importante para nós. Namastê.

Unknown disse...

Que lindo esse poema teu! Nossa, como preciso, às vezes, ser outra, totalmente diferente da que normalmente sou. Caiu como uma luva agora para mim...