“Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância. Pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono! Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer…”

Clarice Lispector

sexta-feira, 29 de julho de 2011

OUTRA

Há dias em que prefiro ser outra
mudar a cor do cabelo
chocar a quem passa na rua
trocar o jeans surrado
pelo vestido decotado,
surpreender.
Pintar as unhas de azul
Fingir que assim sempre fui.

Há dias em que enjoo de mim!
Aquela cara de menina
previsível para muitos
antiquada para poucos.
Ser um exemplo do que sempre esperam
Ser quase perfeita
Jamais perder o ritmo ou o prumo.

Por isso
há dias em que me visto de outra.
Disfarço-me, escondo-me
Invento um eu,
mais humano
mais incompleto
que se permite errar mais
que se permite não pensar muito
tentando não dar razão a tudo e em tudo.
Assim, é mais fácil seguir levando no bolso
para uma ocasião propícia
a minha essência primeira.

* Poema do livro "Luzes de Labirinto".

terça-feira, 26 de julho de 2011

Cecília Meireles e o Hinduísmo

Meu artigo publicado com II Fórum Internacional de Pedagogia ocorrido em Campina Grande em 2009, está íntegro no Recanto das Letras (http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3097565). Segue o resumo para quem se interessar.

CECÍLIA MEIRELES E A POÉTICA DA MORTE:

UMA LEITURA HINDUÍSTA


Cyelle Carmem Vasconcelos PEREIRA[1]

RESUMO
Um dos aspectos essenciais para se entender a poesia de Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) é considerar sua relação com o Hinduísmo. Como um sistema de idéias filosóficas, o Hinduísmo inspirou Cecília Meireles, fazendo-a criar o seu próprio sistema poético de representação. Um dos temas essenciais de sua poesia é o tema lírico da morte. A poetisa ampliou seu conhecimento sobre a Índia, especialmente depois de sua visita ao país em 1953, onde ela recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova Délhi. Os pressupostos básicos de nossa pesquisa situam-se no entendimento de alguns entre vários aspectos instigantes de sua produção poética, elaborados sob a contribuição do Hinduísmo.

Palavras-chave: Literatura Brasileira, Filosofia, Hinduísmo.


[1] Mestre em Literatura e Cultura – PPGL/UFPB.

domingo, 17 de julho de 2011

FARSA

Desconfio que alguém vive minha vida
Estou sempre à margem do que vejo
O que almejo chega como um sonho
e logo acordo.
Acho que outra está com minha vida
Não sinto o que devo sentir
Não tenho o que devo ter
Não escuto o que devo ouvir.
Suponho que alguém está além
por trás desse fino véu
onde vejo minha história
mas está longe do que posso tocar,
distante dos meus dedos.
Agora sei!
Outra finge ser eu
e até agora não conseguir provar
que ela é a farsa
e não eu.