“Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância. Pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono! Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer…”

Clarice Lispector

terça-feira, 20 de março de 2012

FENÔMENOS


Na infinidade de livros lidos
Páginas de letras sem sentido
Não encontrei sua lógica.
Maré alta anunciando tempestade
Fumaça de vulcão, erupção.

Na diversidade de músicas ouvidas
Melodias de notas desafinadas
Não encontrei seu tom.
Ventania leve trazendo furacão
Granizos, nevascas.

Juntei-me às larvas quentes
e aos flocos de neve
Elas me dirão seu segredo.

terça-feira, 13 de março de 2012

No Jornal Contraponto


Mais uma vez, um texto meu saiu no Jornal Contraponto, do dia 9 de março de 2012, campo reservado ao Grupo Caixa Baixa, do qual faço parte. Nesta publicação o texto "A música e a literatura de mãos dadas: parceria ou cópia?" discute a relação entre essas duas áreas que tanto admiramos, especificamente tratando de 2 músicas que gosto muito: Canteiros e Amor pra recomeçar.

Segue o texto na íntegra:


 A MÚSICA E A LITERATURA DE MÃOS DADAS: PARCERIA OU CÓPIA?

Cyelle Carmem

A criatividade é algo imanente do ser humano, embora alguns não a utilizem tão frequentemente. Há séculos passados, Lavoisier afirmou que nada se cria, tudo se transforma. A partir dessa observação, é só olharmos ao redor e ver o quanto tudo é copiado, imitado. Aristóteles, em sua Poética, falava de mimese, ou seja, a arte de se inspirar numa ideia já estabelecida e fazer outra, ou seja, imitar com toques de originalidade. De qualquer forma, se pensarmos, não é tão simples criar algo novo, completamente desconhecido e trazer à tona para o conhecimento de todos.
Aprofundando-nos um pouco mais no assunto, podemos pensar também no plágio e na intertextualidade. Para quem curte música, os exemplos são diversos, a começar pela música Canteiros de Raimundo Fagner, cuja primeira estrofe é uma imitação alterada dos versos de Cecília Meireles, do seu poema Marcha. Esta ‘inspiração’ lhe custou um processo de durou anos, desde 1973, fazendo-o reconhecer, em 1979, que usou os versos do poema indevidamente. Em 1983, as filhas da poetisa venceram a causa na justiça e o cantor incluiu o nome de Cecília como parceira na composição da canção. Segue os versos de Cecília:
''Quando penso no teu rosto, fecho os olhos de saudade
Tenho visto muita coisa, menos a felicidade
Soltam-se meus dedos tristes
dos sonhos claros que invento
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento”
               
Outro caso que nos chama muita atenção é a música Amor pra recomeçar de Frejat, que continua sendo bastante executada nas rádios e faz muito sucesso por conter uma mensagem de encorajamento e esperança. No entanto, o conselho não vem de Frejat, são palavras do poema Desejo do poeta Victor Hugo. Nesse caso, o compositor usou todo o poema e modificou a maneira de dizer, apenas trocando expressões para melhor entendimento. Vale salientar que o poema de Victor Hugo é mais extenso, talvez não sendo apropriado para o tempo definido de uma canção. Nesse caso, Frejat deu os créditos ao escritor, evitando a mesma luta judicial por qual passou Fagner.
Com estes dois exemplos, podemos observar que a criação é um talento que nem sempre está tão disponível, não é um fruto fácil e acessível de colher. A originalidade pode ter se tornado uma árvore de espécie em extinção, que poucos sabem onde buscar e como usar.
A literatura, portanto, é fonte de inspiração para os músicos e compositores ou estes se aproveitam de poetas já mortos para ‘pegar emprestado’ seus versos? Há tempos, testemunhamos casos semelhantes, músicas regravadas, sucessos sendo repetidos e copiados como se fosse possível apagar os créditos de quem os criou.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Calvário


Seu rastro de culpa
Corrente pesada para o inferno
Já é um fardo o querer
Arrepende-se de mim.

No calvário
A lápide incrustada
Denuncia seu pecado
não te livro de todos os males.

Fui seu crime com fortes evidências
Sem carrasco nem inquisidor
Sou uma santa esperando milagres.