“Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância. Pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono! Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer…”

Clarice Lispector

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Antologia "Belezas da Paraíba"

A antologia "Belezas da Paraíba: Poesias e contos", organizada pela escritora Jô Mendonça será lançada no dia 24 de fevereiro no Casarão 34 às 19hrs, em João Pessoa/PB.
O meu poema "Justificativa" está na antologia e tem a participação de outros autores paraibanos como Jairo Cézar, Anna Apolinário e Mirtes Waleska.



JUSTIFICATIVA

Juntas as mãos
espalmadas.
Antes passos errantes.
Perdição.
Deus teve piedade
Não precisaria de mais almas vagabundas.
Cruzou caminhos
acertou os compassos.
Acasos inexplicáveis.
Acasos?
Partes da mesma fornalha
separados por acidente.
Uma falha humana do onipotente
consciente a tempo
juntos novamente os cacos
Ele respira aliviado
.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

JUÍZO

Teus olhos
dúvida de encruzilhada
se for para o norte
o sul lamenta-se.

Melodia de sereia
tua voz possui
encanto de hipnose
morfina na veia
não há razão nem vontade.

Teus olhos
inferno e céu
o purgatório de todos os dias
levam-me mar a dentro
perco o livre-arbítrio.

Quem me dará o perdão?
Quem decidirá o juízo final?
Minha perdição
e minha salvação
perdi o direito à eternidade.

* Este poema sairá no Volume 74 da Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos da CBJE.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

POR BEIRA

Deixa a poeira cobrir as estantes.
Ela testemunha nossa vida
distante, despreocupada de si mesma.
Quando voltarmos a ela
haverá um vazio que cobriremos
com a fina névoa desses corpos.

Deixa a poeira cobrir os móveis.
Ela saberá que estamos longe
cuidando de nós mesmos
minha pele renovando-se na sua
meus dedos explorando seus territórios.

Deixa a poeira isente de nós
alheia ao movimento.
Ela contenta-se feliz por ser
por cima
por beira
poeira.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Raio X borrado, sujeito a mudanças

Gosto de vida agitada, apaixono-me facilmente. Não sei disfarçar tristeza ou fingir alegria. Sou transparente e demonstro com expressões faciais. Sou louca por hidratante, sandália rastreira e chocolate. Gente fútil me enoja, gente normal me entedia. Os livros são companheiros nos momentos de solidão, mas adoro estar entre amigos às gargalhadas. Sempre tive problemas com números, a matemática não gosta de mim, nem eu dela. Meu romance são com as palavras. Por isso, a poesia me fascina tanto. Já estive no mundo da lua quando adolescente, hoje considero-me uma pessoa com o pé no chão. Detesto falsidade, relações de interesse, casamento de aparências. Sou justiceira até com quem não conheço. Já comprei briga pra defender um amigo, uma irmã. Também perdi amigas por isso: se meter demais na vida dos outros nos traz problemas sérios. Sou inconstante ao extremo, afinal de contas meu signo é gêmeos, ascendente aquário. Tenho 1,68m, 60 kg, pele morena e olhos grandes, castanhos. Dizem que sou sensual, elegante, sinceramente também acho. Tenho pretensões a bruxa, minha intuição é aguçada, meu sexto sentido já me livrou de muitas armadilhas. Sonhei com a morte do meu avô 3 meses antes de ocorrer, já saí do meu corpo em sonho, prevejo telefonemas, capto pensamentos, não sempre, mas acontecer. Morei 4 meses em Porto Alegre a estudo, senti muita falta de casa, do namorado, dos amigos, da comida nordestina. Sou louca por jambo, comida japonesa, bebo muita água, tenho medo da velhice. Gosto de dar assistência aos órfãos, principalmente crianças. Desejo muito ter um filho, mas se não puder, adotarei um. Meu instinto materno não será em vão... Adoro fazer sexo, mas preciso estar envolvida. Também adoro beijo de boca. Sou especialista em jogar tudo pro alto quando não estou mais satisfeita com as coisas e quando já tentei de tudo pra dar certo. Muitos tem medo de minha inconstância, sou dispersa, tenho mania de ficar enrolando o cabelo quando estou pensando ou distraída. Sou a verdadeira brasileira de bunda e coxa grossa, mas isso já me trouxe alguns problemas. Embora ser mulher já facilitou de me livrar de multas de trânsito e perder pontos na carteira. Sou honesta a ponto de não gostar de furar filas. Já mandei calar a boca em cinema, recusei favores a aproveitadores e digo não com a mesma facilidade com que troco de roupa. Nas fases de desespero já tirei cartas com cartomante, frequentei centros espíritas, mas nunca fiz mandinga, tenho verdadeiro pavor. Não tenho medo da morte e gosto do tema, tanto que fui visitar recentemente o laboratório da anatomia da faculdade pra ver nossos órgãos ao vivos, que aliás são lindos. Não me apego a coisas pequenas, embora tenha minha birras. Fico irritada facilmente, sou abusada, implicante e por vezes possessiva. Não tenho ciúme de amigos, mas não gosto de falta de consideração. Sou pontual como uma britânica e fico chateada quando me atraso. Nã consigo me conformar facilmente com as coisas, nem ficar de estudar por muito tempo, tenho a impressão que estou parada no tempo. Adoro esportes radicais, como rapel, mas acho que não tenho mais coragem de saltar de paraqueda. Quando criança gostava de brincadeira de menino, como subir em árvores e jogar bola. Nunca fui fã de bonecas.




"Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou acontecimentos reais terá sido mera coincidência."

A coincidência sou eu, pois o texto também é baseado em fatos reais, embora esteja sujeito a mudanças, devido a alto grau de variação térmica, física, demográfica, emocional e psicológica.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Nos outros

Lendo um fotolog, achei a seguinte texto de Tati Bernardi:


"Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito. Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí, maldizendo a tudo e a todos.Eu só queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dá realmente pra ser assim?"


Vivo me procurando em frases alheias, procurando ver-me em fotos, em sensações, em caras de estranhos. Não por que não me conheça, mas porque sinto-me única num mundo tão capitalista, tão egoísta, tão preocupado com aparências, que quando me vejo em alguém, agarro-a fortemente e reluto para deixá-la ir embora.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ESPAÇOS VAGOS

Nos espaços vazios
ponho poesia.
Letras aladas, rimas distraídas
onde não há nada.
Dia chuvoso, tempo corrido
sustos, gritos.
No lugar desses
ponho melodia.
A alma não precisa estar atada ao chão
como uma casa que deseja outras paisagens
mas está destinada à prisão.
Minhas lembranças desejam viajar
levitar pelo céu de devaneios e maravilhas.
Que graça teria se a vida vivesse apenas de realidade?
Por isso ponho poesia
nos espaços vagos da vida.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

SER ESTÓICO




Quereria ser estóico
aceitar os males com resignação
sufocar as mágoas nem sorriso.
Ser estóico
tratar a vida e a morte igualmente
saber que uma é reinício da outra.
Estóico
de olhar fixo
mãos descansadas na poltrona
pés virando raízes no chão.

Ser!
Que ser é estóico?
Quereria
Subjuntivo de modo
impossível.